VIOLÊNCIA Motorista de app diz ter sido violentada: “Dizia que ia me matar”
Para fugir do agressor, mulher pulou do carro em movimento e gritou por ajuda dos moradores. Ainda assustada, ela relata momentos de horror e medo vivenciados
Ao aceitar uma corrida de aplicativo no Setor Central do Gama, Milena* (nome fictício para proteger a vítima), motorista de aplicativo de 41 anos, vivenciou cenas de terror na noite de sexta-feira (24/6). A mulher afirma ter sido estuprada, após um passageiro do Gama ter anunciado um assalto e a obrigado a ir para uma região afastada. O suspeito foi preso em flagrante, depois que a motorista precisou pular do veículo e gritar por ajuda de moradores. O caso está registrado na 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), a central de flagrantes do Distrito Federal.
Ainda assustada com o que vivenciou, Milena relata o sentimento de revolta e impotência. “A gente tem que desconfiar e julgar. Ontem, quando recebi essa corrida, mandei mensagem no grupo e pedi para o pessoal (integrantes) me acompanhar, porque vi que ele (passageiro) era iniciante (no aplicativo). Assim que eu o peguei no Setor Central do Gama, pareceu que era um local fora de suspeitas. Ele estava em uma fogueira, com uma turma ao redor, ouvindo música. Tinha uma mulher com uma criança em um carrinho de bebê e amigos batendo papo. Me pareceu uma situação normal”, detalha.
Milena afirma que um colega do criminoso chegou para conversar no carro e falou que não iria acompanhá-lo. Ainda assim, o suspeito decidiu seguir viagem sozinho. Alguns minutos depois, um amigo do grupo de WhatsApp de Milena ligou para confirmar se estava tudo bem. “Eu disse que estava tudo certo, porque estava mesmo, e pedi para ele me ligar depois de novo”, conta.
Mas quando a motorista chegou na pista de ligação para o Riacho Fundo II, começou o pesadelo. “Ele (o passageiro) anunciou que era um assalto e pulou para o banco da frente. Começou todo o horror. Ele falava que não tinha nada a perder, que podia me matar a qualquer momento se eu não colaborasse com ele. Que era para eu ficar de boa”, lembra.
Inicialmente, o homem dizia que queria apenas dinheiro. “Eu disse que não tinha feito corrida no dinheiro, mas que ele podia pegar meus cartões e usar por aproximação, que podia levar o carro, fazer o que quiser. Ele estava louco de droga”, afirma Milena. Quando a motorista de aplicativo chegou no Balão do Periquito, o homem a mandou subir o viaduto e conduzir em direção a pista da Marinha, sentido São Sebastião.
“Em dado momento ele me mandou entrar no setor de chácaras, eu não queria entrar, mas ele colocou a mão no volante e me obrigou. A gente parou em uma rua escura, que de um lado era uma chácara e do outro matagal. Ele tirou a chave da ignição… E aconteceu tudo”, lamenta.
Milena acrescenta que estava muito nervosa. “Passei muito mal, ele me xingava muito, dizia que não tinha nada a perder, que não tinha mãe e me perguntava se eu queria morrer”. Após a violência, o suspeito assumiu a direção do carro e dirigiu o veículo em direção ao Riacho Fundo II.
“Revoltante”
Segundo o relato de Milena, o homem começou a andar aleatoriamente pela cidade. “Em um momento ele passou perto do postinho policial e de um barzinho lotado. Quando vi que tinha uma viatura e muita gente, eu tentei pular. Mas ele pegou a minha blusa e foi andando com o carro. Eu fui arrastando meu pé no asfalto e gritando socorro. Ele me mandava calar a boca e me puxou para dentro. Meu pé ainda está machucado”, diz.
Apesar da tentativa, as pessoas não reagiram para ajudar Milena. “Ele deu uma fuga no carro e ninguém foi atrás. Teve apenas um cara que acompanhou a gente, mas ele (o passageiro) disse que era meu namorado e que eu estava doidona. Então o homem do carro preto foi embora”, narra.
Quando o suspeito se descuidou e entrou em um rua com muitos quebra-molas, Milena encontrou uma segunda oportunidade de fugir. “Ele teve que entrar devagar, então eu abri a porta e pulei gritando socorro e assalto. Os moradores saíram e fecharam o carro. De novo, ele (o suspeito) começou a dizer que eu estava doidona, que a gente estava vindo de um barzinho, e o pessoal ficava na dúvida se acreditava em mim ou nele”, diz a motorista.
Depois de insistir para chamarem a Polícia, os populares atenderam ao pedido de Milena, que emocionada, confessa: “é muito pesado, porque os policiais chegaram e ainda ficaram conversando com ele. E ele apenas dizia que eu estava doidona, que estivemos juntos em um barzinho e ninguém acreditava em mim. Depois que eu gritei, falando que era motorista de aplicativo, perguntando porque ele ainda estava solto, e dizendo que tudo que eu tinha dito, tinha como provar, foi que deram a ordem de prisão para ele e nos levaram para a delegacia”, afirma.
Investigação
Fontes policiais ouvidas pelo Correio informaram a polícia coletou a roupa de Milena e também a roupa do agressor, para exames de laboratório e coleta de material biológico. O veículo também foi apreendido, além dos celulares do agressor e da vítima. A polícia pretende conferir a chamada realizada pelo aplicativo para confrontar a versão do acusado.
Em depoimento na delegacia, o suspeito negou o estupro e disse que conheceu a motorista de aplicativo em uma distribuidora do Gama, e que após “chavecar” a vítima, resolveram ir para um motel em Taguatinga. Mas a caminho do motel Milena teria surtado, parou o carro e começou a dizer que tinha sido estuprada. O caso segue sob investigação.
Fonte: Darcianne Diogo/Edis Henrique Peres/Correio Brasiliense