CELULARES SUMIRAM Mortos em ação da PM no Manso estavam ‘deitados no chão, com a mão na cabeça’

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Inquérito do Ministério Público Estadual (MPE) aponta que 5 homens mortos em 30 de outubro de 2019, na Estrada no Manso, foram executados enquanto estavam deitados no chão, com as mãos na cabeça. As mortes foram combinadas após um roubo na casa do irmão de um coronel da PM.

Na ação, morreram: Bryan Christian Rodrigues Pinheiro, 19; Francisco Junior de Carvalho, 32; Kelvin Dias Nascimento, 23; Lucas Matheus Campos Arce, 21 e Vanderson da Conceição Ferreira, 33. Desses, o único que não tinha ficha criminal era Kelvin Dias.

As informações são de um dos envolvidos na ação, que foi interrogado junto ao MPE e passou a ser chamado de delator. Trata-se de Ruiter Ricardo da Silva. Segundo ele, esse ‘confronto’ específico foi tramado após o roubo na casa do sogro, que é irmão de um coronel. Esse oficial pediu ajuda para prender os criminosos e ainda deu carta branca para ‘fazer o que quisesse’ com os presos.

Como já noticiado, Ruiter atuava para recrutar e atrair os criminosos para os locais onde eles seriam mortos. Mas, ele fingia que o convite era para cometer um suposto roubo. Nesse caso em específico, o roubo seria em uma chácara na estrada do Manso, onde teria dinheiro e joias.

Em troca, o informante recebia dos policiais dinheiro e objetos de valores que estavam em poder das vítimas na hora do crime. Na maioria das vezes, eram aparelhos de telefone celular. Como nesse caso, apesar de todos os mortos estarem com o celular no dia do crime, nenhum aparelho foi dado como apreendido.

Foi constatado depois que, o celular de uma das vítimas – Lucas Matheus – estava em poder da ex-mulher do delator. O aparelho foi dado como ‘pagamento’ por um soldado da Rotam pela ‘boa execução do plano’.

Com um grupo pronto para o roubo, o informante da PM ainda deu para um dos mortos um celular repassado por um PM que faz parte do serviço de inteligência da Ronda Ostensiva Tática Móvel (Rotam). No dia do crime, o informante conversou várias vezes com os policiais da inteligência.

Emboscada

Na data e hora combinada, o grupo saiu em dois carros até o suposto local do crime. O informante estava em um Fox vermelho – usado em outros 4 crimes investigados e as vítimas em outro veículo.

Perto do Aquapark, o informante flagrou o comboio dos policiais, que abordaram o carro do grupo. “Presenciou as vítimas sendo abordadas pelos policiais, todas deitadas no chão, rendidas, e então deixou o local, permanecendo uma viatura Gol descaracterizada, de cor prata, e mais 4 viaturas caracterizadas”.

As declarações do delator foram confirmadas pela prova pericial, tal como exame de balística e de necropsia. Também batem com a quebra de sigilo telefônico e de dados. “Onde foi constada a relação existente entre ele [informante] e os representados [policiais militares], para a realização de serviços dentre outras evidências”, diz trecho do documento judicial.

Sendo assim, com base no que foi apurado e nos elementos de convicção, foi constatado que as vítimas morreram deitadas no chão. Além disso, eles estavam com as mãos na cabeça. “Não tendo, portanto, ocorrido qualquer disparo de arma de fogo por parte delas, que justificasse a ação policial”.

Versão do crime divulgada pela imprensa

O suposto confronto foi noticiado na noite do dia 30 pela reportagem. Naquele dia, as informações eram de que uma denúncia anônima levou as equipes até os suspeitos. Eles estavam divididos em dois carros, sendo um vermelho e o outro Gol branco. Duas equipes foram para o local e encontraram um dos carros próximo de um campo de golfe.

Os ocupantes não respeitaram os sinais de parada e empreenderam fuga. Só pararam na lateral da estrada, quando 3 suspeitos desembarcaram já com armas em punhos e começaram a atirar contra os policiais. Os policiais revidaram.

Momento em que o outro veículo passou pela ocorrência e foi seguido por outra equipe, iniciando uma nova troca de tiros. No segundo carro estavam dois suspeitos. Todos os suspeitos foram alvejados. Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas os policiais acabaram trazendo os baleados na viatura para o Pronto-Socorro de Cuiabá.

Três morreram ainda no local e outros dois foram socorridos pelo Samu ainda com vida. No entanto, não resistiram aos ferimentos e acabaram morrendo.

Operação Simulacrum

A operação, que foi deflagrada na quinta-feira (31), pela Polícia Civil e MPE, tem como base investigações realizadas em 6 inquéritos policiais, já em fase de conclusão, sofre supostos ‘confrontos’ na região metropolitana. Com isso, foram expedidos 115 mandados judiciais, sendo 81 de prisão e 34 de busca e apreensão. Ao todo, 64 policiais foram presos.

Consta na investigação que os policiais militares envolvidos contavam com a atuação de um colaborador, que cooptava interessados na prática de falsos crimes patrimoniais, sendo que, na verdade, o objetivo era matar os participantes do crime.

“Após atraí-los a locais ermos, onde já se encontravam os policiais militares, eram sumariamente executados, sob o falso fundamento de um confronto. Os responsáveis pela apuração dos fatos reforçam que há farto conteúdo probatório que contrapõe a tese de confronto apresentada pelos investigados”, explicou a assessoria.

Fonte: Yuri Ramires/Gazeta Digital

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