Ambas vão cursar engenharia industrial madeireira e pensam em fundar uma grande empresa de reflorestamento
A faxineira Andréa Saad Grape, 48 anos, e sua filha Amanda, 21, foram aprovadas na Universidade Federal do Paraná (UFPR), no curso de engenharia industrial madeireira. Gestora de TI, Amanda decidiu embarcar no antigo sonho da mãe e propôs a ela fazer a inscrição para o vestibular juntas.
Mesmo sem ter feito cursinho ou se afogado em livros para tentar a sorte, Andréa deixou a indecisão de lado e topou o desafio. O resultado da aprovação, recém-divulgado, foi recebido com espanto e euforia pelas duas.
Amanda, trabalha na área de e-commerce de uma empresa de colchões em Curitiba, e a mãe presta serviços para uma empresa, limpando salas comerciais. Ao saber da aprovação das duas, Amanda não conteve a emoção. Imediatamente encaminhou uma mensagem, para a mãe, que estava em meio a uma faxina, deixando-a igualmente perplexa.
“Foi o resgate de um projeto”, conta Andréa, lembrando que em 2009, quando a filha tinha apenas 9 anos, foi aprovada para o mesmo curso, na mesma instituição. “Cheguei a frequentar aulas, que eram diurnas, sempre fazendo bicos para ajudar no sustento da casa. Na hora do almoço, cozinhava ou passava roupas para algum professor que sabia da minha luta diária”, conta, completando que depois de três anos se viu obrigada a trancar a matrícula. Agora, ambas vão estudar à noite, mas continuarão trabalhando em seus respectivos empregos.
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O marido de Andréa e pai de Amanda, Cristiano Álvaro Grape, 48, é dono de um quiosque de papelaria e presentes num mercado do bairro Capão Raso, e o filho mais velho, Lucas, 26 cursa educação física em uma faculdade particular. Graduado em tecnologia em logística, Cristiano revela que a conquista da mulher e da filha o motivaram a também retomar os estudos. “Penso em fazer pós-graduação com outro encaminhamento, como terapia ou psicologia. Nada me impede, ainda mais com esses exemplos dentro de casa. Posso me toronar alguma coisa a mais”, afirma.
Ele revela ter recebido a notícia da aprovação das duas com muita emoção. “Foi superbacana É muito bom saber que elas seguirão juntas”, disse. Segundo ele, a família sempre foi muito unida e colaborativa em todos os sentidos. Tanto que pai e filho estão empenhados em ajudar a mulher e a filha a comprarem um veículo para facilitar o deslocamento até a universidade, que fica cerca de 10 km da casa onde moram.
As novas calouras da UFPR não escondem a expectativa de fazer o mesmo percurso para a faculdade juntas. “Nossa vida sempre foi de muita união e carinho. O caminho do meu trabalho é o mesmo do dela e isso vai facilitar bastante as nossas vidas. Agora, estudando juntas, ficaremos ainda mais próximas”, diz Andréa.
“Estou bastante animada com essa nova rotina. Sempre fomos grandes companheiras, parceiras em tudo. A ideia é ajudarmos uma a outra nas matérias e no que for preciso. De forma alguma isso vai ser entediante. Muito pelo contrário, vai ser uma aventura muito legal. Pra gente, quanto mais convivência melhor”, completa Amanda.
Planejando o futuro
Andréa, cujos pais estudaram somente até o 4º ano do ensino fundamental, fez curso de tecnólogo em recursos humanos, concluído em dois anos, mas nunca atuou na área, “porque as faxinas pagam bem mais”. Para auto testar seus conhecimentos, ela costuma se inscrever em concursos públicos. “Gosto de saber até que ponto estou atualizada, saber como estão as coisas, ser esperta, acumular conhecimento, não deixar a peteca cair. Qualquer coisa que a gente aprende nunca é perdida”, diz.
Sobre o fato de retomar os estudos, ela observa que, apesar de não poder prever como será esse percurso, não há motivo algum para desanimar. “O importante é ir à luta. Pode ser até um cursinho aleatório, nada é perdido, digo e repito.”
Já Amanda estudou até a 8ª série em escolas públicas e cursou o ensino médio com bolsa integral em uma unidade do Serviço Social da Indústria (Sesi). Com bolsa do Prouni, ela graduou-se em gestão de tecnologia da informação em uma instituição privada, em 2020. “Agora vou fazer o que realmente quero”, comemora, revelando que seu interesse pela engenharia industrial madeireira foi despertado pela mãe.
“A gente sempre passeava no campus quando ela estudou lá pela primeira vez. Cheguei até a acompanhá-la nas aulas, mas foi numa feira de cursos e profissões da UFPR, quando minha mãe me explicou as propriedades da madeira, que fiquei realmente encantada, atraída pela a profissão”, lembra.
Agora, ambas pensam em montar uma empresa de reflorestamento. Antes, Amanda pretende fazer uma especialização na Alemanha, que é referência na área. “Vai ser mais uma oportunidade para pintarmos a cara e todo o corpo e tomarmos um belo banho de chope, como fizemos agora”, diz Andréa.
Fonte: Jáder Rezende/Correio Braziliense/Jornal Estado de Minas
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