SEM LIMITAÇÕES De muletas, aos 63 anos e sem falar línguas, agrônomo conheceu 143 países
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O engenheiro agrônomo Luiz Thadeu visitou brevemente a Cidade Verde, na última segunda-feira (28). Mas aos 63 anos, ele também já pisou na Cidade Luz, Cidade Eterna, Capital do Tango e em outros 140 países. Com o histórico, entrou para o livro dos recordes como o brasileiro com mobilidade reduzida mais viajante do mundo.
Natural de São Luis do Maranhão, Luiz Thadeu se apaixonou por viajar a partir dos livros, quando ainda era criança. Na faculdade, teve a oportunidade de conhecer várias cidades brasileiras, por meio de dois projetos de intercâmbio.
Inclusive, ele “zerou” todas as 27 capitais do Brasil agora, ao divulgar seu livro “Com Asas nos Pés”. Nas páginas, ele conta sua história. Em julho de 2003, o agrônomo sofreu um grave acidente de carro, que o deixou acamado por 5 anos.
Ele estava em um táxi, quando o motorista foi atender uma ligação. Em seguida, o taxista perdeu a direção e acabou batendo contra um caminhão.
Antes do acidente, ele juntou seu primeiro salário como agrônomo para conhecer o exterior. “Conheci Portugal, Espanha, Estados Unidos, Argentina e Paraguai, 5 países”, lista.
Após a tragédia, Luiz fez mais de 43 cirurgias na perna, além de fisioterapia para voltar a andar. Enquanto isso, já se programava para viajar, assim que conseguisse aprender a usar a muleta.
Foi quando seus dois filhos, em 2009, viajaram para a Irlanda para estudar inglês. “Eles montaram uma viagem pra mim pra eu conhecer a França, Espanha, Itália, Inglaterra, Bélgica. Fiz um circuito de 8 países, que foi meu batismo depois que eu sofri o acidente”, conta.
Ele relembra que quando saiu do avião em São Paulo, percebeu que não existiam limitações que o impedissem de realizar o seu maior objetivo na vida, que é viajar. “O mundo lá fora é muito mais receptivo para com um problema como o meu, do que o Brasil que não é adaptado para pessoas com mobilidade reduzida”, conta.
De 2009 a 2019, o engenheiro conheceu 143 países. Isso significa dizer, em média, que ele visitou 2 países por mês. Sua intenção é conhecer os 193 países, de acordo com a ONU.
Pandemia
A pandemia da covid-19 foi um dos impeditivos de Luiz continuar a carimbar seu passaporte. Há 2 anos sem viajar e com 50 países faltando, ele conta que tem 9 viagens aéreas internacionais compradas e adiadas.
“Eu tenho passagem comprada pra ir pro Japão, pra China, que já estava comprado. Mas depois vou conhecer outros países. Por exemplo, quero ir pro Tibete, quero ir pro Butão”.
“Na hora que melhorar eu vou voltar a viajar. Eu elejo os países e vou fechando por continente. Na Europa só falta um país que não conheço, que é a Islândia. Todos os outros eu conheço, inclusive a Ucrânia, que eu visitei em 2019. E o que estou vendo hoje é um negócio assustador, triste, triste”, comenta sobre a guerra da Rússia contra Ucrânia.
Conhecer os 193 países
Conforme Luiz, quem viaja muito é como quem coleciona figurinhas. O roteiro de viagem depende de diversos fatores, como aproveitar que está em um país maior para conhecer outro vizinho menor. Por isso, ele já visitou o mesmo destino várias vezes.
“Você tem um álbum com tudo ali vazio. Aqueles primeiros pacotinhos, quando abre, qualquer figurinha serve. Quando vai enchendo as páginas, você tem que comprar vários pacotinhos pra encontrar uma figurinha que sirva. Agora que eu tenho menos países para visitar, eu tenho que pesquisar mais, porque o custo é maior por serem mais longes e mais difíceis”, avalia.
Aos 60 anos, de muletas sem falar outros idiomas
Luiz revela que a pergunta que mais ouve por conta de suas viagens, é sobre dinheiro. Entretanto, esclarece que não é rico. As pessoas têm objetivos na vida, e o dele é conhecer o mundo, explica.
“Eu nunca tive muito dinheiro, eu nem sei o que é ter muito dinheiro. Mas eu aprendi desde cedo a lidar com pouco dinheiro. Tudo pra vida, pra você alcançar um objetivo, tem que ter planejamento, pra qualquer coisa. Eu me planejei a minha vida inteira para uma coisa, que é viajar”, pontua.
Outra observação de Luiz é que ele não fala nenhum idioma a não ser o português. Ou seja, a língua não é um impedimento para viajar fora.
“Eu passei por um perrengue grande quando passei pela capital da Bielorrússia. Quando cheguei lá, a minha reserva tinha sido cancelada, e lá eles falam russo. Eu perguntei em inglês, não sei ingles, mas algumas frases me salvam, como ‘Do you have WiFi? Botaram o WiFi pra mim e eu traduzia do português paro o russo. Acharam minha reserva e fiquei no hotel”.
Luiz ainda aponta que muitas pessoas, por chegarem a certa idade, acham que não podem mais viajar. Ele, que já tem 63 anos, esclarece que tudo é possível.
“Mesmo eu sendo sessentão, eu fui me redescobrindo por causa da Internet. Muitas pessoas aos 60 anos acham que não tem mais projeto de vida, não tem objetivo. Eu aos 63 anos estou fazendo jornalismo, foi a maneira também que eu encontrei de me reinventar”, revela.
Fonte: Vitória Lopes/Gazeta Digital