CIDADES / DIA DE PROTESTO Alunas denunciam abusos sexuais durante aulas de educação física
Com apoio de pais e professores, vítimas estão organizando um protesto pacífico para denunciar o professor
Estudantes da Escola Estadual Ulisses Guimarães, em Campo Verde, irão realizar um protesto nesta terça-feira, 29 de março, contra casos de assédio sexual supostamente ocorridos dentro da escola. A ação acontece após mais uma aluna denunciar o professor de Educação Física da instituição.
Uma aluna, cuja identidade será preservada, denunciou o assédio que sofreu à direção da escola na última quinta-feira (24). O Estadão Mato Grosso teve acesso ao relato da vítima, que conta que o professor “ficava olhando durante as aulas de uma forma que um professor não deveria olhar para uma aluna. Ele vinha me abraçar, me chamando de gatinha linda. Passou a mão na minha perna, na barriga, nas minhas costas e ficava pegando na minha bochecha”, contou.
De acordo com a vítima, o professor ainda pensava que tinha intimidade para mandar beijinhos. “Estou tendo pesadelos com ele. Estou com muito medo dele vir atrás de mim”, contou.
As denúncias foram feitas depois que o homem comentou um status da garota em uma rede social, comentando que ela era ‘gata’.
Uma segunda vítima, que vamos chamar pelo nome fictício de Carla*, contou que durante os treinos do time de futsal, quando estudava na escola, sempre achou o comportamento do professor suspeito.
“Ele sempre chamava de bonitona e tals. Fizemos um grupo no WhatsApp para nos comunicar e eu sempre perguntava se teria treino, às vezes mandava no privado, quando não tinha resposta no grupo, e ele sempre me chamava de amor. Ele mandava toda noite falando: Boa noite, meu amor. Oi linda. Eu nunca respondia”, contou.
Carla conta que chegou a desistir do time de futsal por causa do comportamento do professor, com medo de algo acontecer. “Sempre evitava ao máximo algum contato de precisar ser tocada, porque pra mim, mesmo que fosse treino, não tinha necessidade de ficar tocando ou atrás da gente. Tipo quando fazíamos agachamentos”.
Uma terceira estudante, da Escola Dona Maria Artemir Pires, também em Campo Verde, contou que estava no 6° ou 7º ano quando teve aula com o suspeito. “Ele sempre falou e brincou comigo como os outros professores, só que sempre que possível ele me abraçava. A mão era mais abaixo da cintura, me abraçava por trás e direto passava a mão na minha bunda e dizia que era sem querer”, relatou Maria*.
Maria afirma que outra colega foi assediada pelo mesmo professor e denunciou. Ela não teve a mesma coragem e conta que se sentiu muito desconfortável na época. “Hoje percebo que é muito errado [a atitude dele] e que deveria ter tomado providência mais cedo”, desabafou.
Após sofrer uma tentativa de estupro de um membro da própria família, Maria ficou traumatizada e prometeu que não iria mais se calar. “Ele sempre olhou de um jeito malicioso para todas as meninas da minha sala”.
Uma quarta vítima, que será tratada pelo nome de Joana*, conta que o professor sempre tentava ficar tocando na hora do abraço. “Ele sempre falava que estávamos muito bonitas de corpo. Em todos os exercícios que a gente fazia, era meio diferente a maioria deles, pois era de ficar com a perna aberta”, recorda.
Uma das organizadoras do evento conversou com nossa reportagem e disse que o protesto tem apoio de alunos, professores, pais e até de uma igreja da cidade. “Vamos nos reunir na Praça João Paulo 2º, às 13h. Será um protesto pacífico, sem envolver qualquer tipo de violência. Estaremos vestidos de branco para podermos marcar na nossa roupa os lugares em que fomos tocadas sem permissão. É um protesto sobre assédio sexual e todos podem participar”, convidou Ana*.
“Isto [protesto] é algo que estamos fazendo não só para expulsar o professor, mas para conscientizar a cidade e mostrar que não iremos deixar a escola nos calar como eles acham que vão. Juntos somos mais fortes e não vão nos calar”, afirmou.
OUTRO LADO
O Estadão Mato Grosso entrou em contato com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) pedindo um posicionamento quanto às denúncias. O órgão afirmou que está apurando a situação e retornaria o contato. Nenhuma resposta foi dada até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação.
Fonte: Cátia Alves/Tarley Carvalho/Estadão Mato Grosso