Pirapora Peixes ‘saltam’ corredeira do Velho Chico para a reprodução
Fenômeno da natureza é apreciado por moradores durante a enchente do Rio São Francisco
Moradores de Pirapora, no Norte de Minas, foram até a beira do Rio São Francisco, na área urbana da cidade, neste sábado, para apreciar um espetáculo da natureza: a subida dos peixes em direção à cabeceira do rio para a reprodução, a piracema. O fenômeno é favorecido pela enchente do Velho Chico.
Nos últimos dias, o volume do Rio São Francisco aumentou bastante devido às chuvas e à abertura das comportas da Usina Hidrelétrica de Três Marias, feita pela Cemig desde o final de janeiro. Neste sábado, a quantidade de água liberada do reservatório de Três Marias chegou a 3 mil metros cúbicos por segundo.
Com a cheia no período da piracema (que vai de novembro a fevereiro), quando a pesca é proibida na bacia, os cardumes sobem o rio para reprodução e, ao passarem pelas “corredeiras do Velho Chico”, em Pirapora, as espécies dão saltos, tentando vencer os obstáculos das pedras e quedas d’água do leito. Assim, criam um bonito espetáculo da natureza. O fenômeno foi registrado pelos moradores em vídeos, divulgados na redes sociais.
O espetáculo da natureza, com os peixes ultrapassando os obstáculos das pedras nas corredeiras para a desova na cabeceira do rio, está vinculado diretamente ao nome da cidade. Na linguagem tupi guarani, Pirapora significa “salto do peixe”.
O ambientalista Roberto Mac Donald, do Projeto “Amigos das Águas”, de Pirapora, afirma que após as últimas chuvas e inundações do Rio São Francisco, foi constatado o aumento da quantidade de peixes subindo o rio para a reprodução.
“É a primeira vez, desde a grande mortandade de peixes ocorrida no Velho Chico em 2004 e 2005, que estamos vendo novamente aumentar os cardumes. Isso é um motivo de grande alegria para mim e os pescadores ribeirinhos”, afirma Mac Donald.
Ele lembra que uns anos 2000, o lançamento de metais pesados nas águas do São Francisco por uma indústria de Três Marias foi apontada como a causa do problema.
“Mas, depois, foi feito um estudo que mostrou que, na verdade, a grande poluição do Rio São Francisco chegava pelo Rio das Velhas, que recebia 100% do esgoto doméstico e industrial da Regiao Metropolitana de Belo Horizonte”, enfatiza o ambientalista.
Ele acrescenta que foi constatado que, por meio do Rio das Velhas, o Velho Chico também recebia esgoto industrial de mineradoras, o que teria contribuído para a mortandade de peixes no São Francisco, sobretudo do surubi, espécie mais conhecida da bacia. Mac Donald se recorda que morreram exemplares de surubi no rio com peso de mais de 100 quilos.
Nessa época, foram implantadas diversas ações voltadas para a despoluição e revitalização do Rio das Velhas, por meio de um pacto firmado entre o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH-Rio das Velhas), as prefeituras que integram a bacia, a Copasa e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad).
Entre as espécies vistas “saltando” as corredeiras do Velho Chico em direção à cabeceira do rio para a reprodução, Roberto Mac Donald cita o surubi, a curimatã e o dourado.