Trem da Fico avança de Goiás para Água Boa

Água Boa, no centro geodésico do Brasil, espera pelo apito do trem da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico)

Em Mara Rosa o presidente Bolsonaro lança a Fico

Água Boa, no centro geodésico do Brasil, espera pelo apito do trem da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) previsto para escoar commodities agrícola daquele e municípios da região, em quatro anos. O presidente Jair Bolsonaro (PL) lançou a obra da Fico em 17 de setembro, na cidade de Mara Rosa (GO).

Inicialmente a Fico ligará Mara Rosa situada à margem da Ferrovia Norte-Sul, a Água Boa, num trajeto de 383 quilômetros com a obra estimada em R$ 2,7 bilhões pela mineradora Vale, que a constrói. Numa segunda etapa, sem previsão de início, os trilhos avançarão de Água Boa a Vilhena (RO) cruzando Gaúcha do Norte e Lucas do Rio Verde. Existe ainda a possibilidade de que a VLI Logística construa um ramal ferroviário com 567 quilômetros ligando Água Boa a Lucas do Rio Verde, pois essa empresa assinou contrato com o Ministério da Infraestrutura que lhe permite elaborar um projeto nesse sentido.

Fico faz parte do projeto do conjunto de ferrovias que somam 10 mil quilômetros, e que seriam construídas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado no governo do ex-presidente Lula da Silva. Lula terminou o mandato e a obra da Fico não saiu do papel, onde continuou durante a presidência de sua sucessora Dilma Rousseff.

Dilma sofreu cassação e Michel Temer assumiu a Presidência. Blairo Maggi (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e outros dois ministros costuraram o modelo para a construção da Fico: Valter Casimiro Silveira (Transporte, Portos e Aeroportos) e Carlos Marun (ministro-Chefe da Secretaria de Governo).

A costura. A mineradora Vale tem duas ferrovias cujas concessões estão próximas de vencer: a Estrada de Ferro Vitória a Minas e a Estrada de Ferro Carajás. Marun à frente, negociou com a Vale: “renovamos as concessões a desembolso zero e você constrói a Fico entre Campinorte (GO), à margem da Ferrovia Norte-Sul, e Água Boa”, teria dito Marun, que fez tal revelação numa visita a Cuiabá, para inaugurar a duplicação da BR-163/364 entre a Capital e Jaciara, no final do governo Temer. A Vale topou. O trajeto de Campinorte a Água Boa foi alterado para Mara Rosa como ponto de partida, em razão da topografia.

A ferrovia exigirá a construção de pontes sobre o rio Araguaia e das Mortes. Quando sua obra for concluída a Vale a entregará ao governo federal, que a dará em concessão. Analistas entendem que o curto trecho não desperte interesse para exploração, caso não haja clareza quanto ao avanço dos trilhos para Rondônia, o que abriria o leque do transporte nos dois sentidos, com diversificação de cargas em ambos os estados, uma vez que o trajeto cruza áreas com agroindústria e grande produção agrícola e pecuária.

A extensão de 383 quilômetros para se alcançar os trilhos da Norte-Sul é considerada ‘pequena distância’ para o transporte ferroviário tanto pela cultura do rodoviarismo nacional, quanto pelo investimento da concessionária em locomotivas, vagões, sinalização, comunicação e uma gama de outros componentes da engrenagem que movimenta o trem.

Distância ferroviária à parte o polo de Água Boa formado por Nova Nazaré, Nova Xavantina, Campinápolis, Canarana, Ribeirão Cascalheira, Gaúcha do Norte e Cocalinho produz commodities agrícolas suficientes para garantir razoável embarque ao porto de Itaqui, no Maranhão, com a utilização da Norte-Sul no modal Água Boa-Maranhão. Porém, a oferta de cargas poderá aumentar quando entrar em operação a mineração na reserva de minério de ferro em Cocalinho, recentemente descoberta e que seria uma das maiores do Brasil, além de apresentar alto teor de ferro, o que torna o mineral mais competitivo nos polos sídero-metalúrgicos nacionais e para exportação.

O polo de Água Boa é pequeno e não pode ser expandido por se encontrar numa região central cercado por alternativas de transporte rodoferroviário por todos os lados. Barra do Garças, Araguaiana e Novo São Joaquim aguardam a conclusão da pavimentação da rodovia MT-100, que margeia o rio Araguaia, para escoar commodities ao terminal ferroviário da Rumo em Alto Araguaia, na divisa com Goiás; a obra da MT-100 está em fase final e cruza as cidades de Araguainha, Ponte Branca, Ribeirãozinho, Torixoréu e Pontal do Araguaia. Querência, Confresa, Porto Alegre do Norte, Canabrava do Norte, Alto Boa Vista, São Félix do Araguaia, Vila Rica e municípios vizinhos têm saída natural por rodovias para Tocantins, Maranhão e Pará. Santo Antônio do Leste, Primavera do Leste, Nova Brasilândia, Planalto da Serra e Paranatinga escoam seus produtos para o terminal da Rumo em Rondonópolis, pela MT-130 via Poxoréu.

Sem agroindústria na cidade e nos municípios vizinhos, Água Boa (26.700 habitantes) tenta atrair investidores para os segmentos de esmagamento de soja, abate bovino e suíno, descaroçamento de algodão, sucroalcooleiro e outros compatíveis com o perfil de sua produção primária. Porém, para que haja verticalização da produção será preciso oferecer moradias para os operários da indústria, além de ampliar o número de vagas nas escolas, criar creches e postos de saúde, o que parece difícil para a prefeitura, que não tem nenhum programa nesse sentido.

VLI – Empresa de logística ex-subsidiária da Vale, que é sua maior acionista (29,6%) a VLI assinou contrato com o Ministério da Infraestrutura no apagar das luzes de 2021, para elaborar um projeto e apresentar estudo de viabilidade econômica visando a construção de um trecho de 567 quilômetros entre Água Boa e Lucas do Rio Verde cruzando Gaúcha do Norte. O documento pode se transformar em ponto de partida para a consolidação da obra, que nesse caso seria executada em parte do trajeto da Fico previsto para ligar Rondônia e Mato Grosso aos trilhos da Norte-Sul em Goiás.

Fonte: EDUARDO GOMES/Diário de Cuiabá/Web TV Cidade MT