SUS Pandemia derrubou quase 85 mil procedimentos ambulatoriais em MT
Em abril e maio de 2020, a pandemia do coronavírus reduziu pela metade os atendimentos eletivos oferecidos pelo SUS
Por conta da pandemia do coronavírus, que causa a Covid-19, a realização das cirurgias eletivas ficou muito comprometida. Em Mato Grosso, a crise sanitária provocou uma redução de quase 85 mil exames e outros procedimentos eletivos, àqueles não programados ou que não são considerados de urgência e emergência.
É o que mostra um novo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), que tem analisado os efeitos da pandemia no Brasil desde março do ano passado. Em todo o país, a queda foi de 26,9 milhões (-28%) de procedimentos decorrentes das restrições de acesso aos hospitais, o contingenciamento de leitos para o tratamento da Covid-19 e o medo de pacientes em procurar ajuda médica em função do coronavírus.
De acordo com o CFM, a redução nos procedimentos ambulatoriais, àqueles que não exigem a permanência do paciente na unidade de saúde por mais de 24 horas, afetou todas as regiões do país. No Estado, em 2020, foram realizados 830.360 atendimentos do tipo contra 914.749, em 2019, o que corresponde a um impacto de -9%, o menor percentual em nível nacional. Os dados são referentes aos serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Dentre os estados do centro-oeste, o vizinho Mato Grosso do Sul teve uma variação de -35, seguido de Goiás (-20). Na contramão da tendência nacional, o Distrito Federal registrou um aumento de 10%. Em quantidade absoluta, o impacto negativo foi mais significativo São Paulo e Minas Gerais, com 5,7 milhões (redução de 24%) e 4 milhões (-31%) a menos, respectivamente.
Ainda em nível nacional, ao comparar o volume de serviços médicos registrados no Sistema de Informações Ambulatoriais (SAI) do SUS e realizados entre março (primeiro mês da pandemia no Brasil) e dezembro de 2020 com o mesmo período do ano anterior, o CFM constatou a redução de pelo menos 16 milhões de exames com finalidade diagnóstica, 8 milhões de procedimentos clínicos, 1,2 milhão de pequenas cirurgias e 210 mil transplantes de órgãos, tecidos e células.
“Uma das medidas de enfrentamento à Covid-19, de reconhecimento nacional e internacional, foi a suspensão de procedimentos eletivos com o intuito de preservar equipamentos de proteção individual, preservar leitos e evitar o colapso do SUS e consequente desassistência a pacientes infectados pelo novo coronavírus”, disse o presidente do CFM, Mauro Ribeiro, por meio da assessoria de imprensa. Para ele, o desafio agora é “preparar o Brasil para a retomada segura desses atendimentos”.
Conforme CFM, o impacto negativo nos atendimentos médicos nos ambulatórios da rede pública foi mais drástico durante os dois primeiros meses após a decretação de calamidade pública. Em abril e maio do ano passado, a pandemia baixou pela metade os atendimentos eletivos oferecidos pelas mais diversas especialidades médicas.
Os procedimentos realizados por oftalmologistas, sobretudo consultas e exames de mapeamento de retina e aferição da pressão intraocular (tonometria), caíram de 18,5 milhões em 2019 (março a dezembro) para 12,2 milhões. Um déficit de pelo menos 6,3 milhões (-34%) entre os períodos analisados.
No ranking das áreas médicas mais acometidas (o SIA-SUS não utiliza a nomenclatura médica, mas a Classificação Brasileira de Ocupações), além da oftalmologia estão a radiologia, com redução de 5,4 milhões de procedimentos; a clínica médica (-2,8 milhões); e a radioterapia (-2,6 milhões). Também figuram entre as dez áreas mais afetadas a anatomopatologia; cardiologia; citopatologia, neurologia e ginecologia e obstetrícia.
Exames preventivos contra o câncer, por exemplo, estão entre os que sofreram significativa queda no período. A mamografia bilateral para rastreamento, exame realizado nas duas mamas e muitas vezes vital para a descoberta precoce de um câncer de mama, passou de 3,2 milhões, entre março e dezembro de 2019, para 1,7 milhão no mesmo período de 2020.
O Governo de Mato Grosso autoriza o retorno de cirurgias eletivas nos hospitais públicos em julho passado. A decisão levou em consideração a redução na taxa de ocupação dos leitos de internação em unidades de terapia intensiva (UTIs) de pacientes em tratamento do coronavírus, que na ocasião estava em torno de 70% e, atualmente, em 40%.
Na época, o Estado anunciou o investimento de R$ 105 milhões para a realização de 138 mil procedimentos de saúde e reduzir drasticamente a fila de espera represada nos últimos três anos.
Fonte: JOANICE DE DEUS/Diário de Cuiabá/Web TV Cidade