PORTO PRÍNCIPE – Um forte terremoto de 7,2 de magnitude atingiu o Haiti na manha deste sábado na costa norte da Península de Tiburon, e foi sentido em todo o país, deixando ao menos 304 mortos, 1.800 feridos e milhares de desaparecidos, informou o chefe da Defesa Civil do país, Jerry Chandler. Ainda não se tem noção da magnitude do número de vítimas. O desastre torna ainda mais aguda uma severa crise humanitária no Haiti, abalado por uma economia em ruínas e um sistema político altamente instável.

Em uma mensagem por escrito, o primeiro-ministro Ariel Henry disse que “os hospitais locais, em particular o de Les Cayes, estão lotados de pessoas feridas e com fraturas”. Ele disse que a Cruz Vermelha Internacional e hospitais em áreas não afetadas estão ajudando a cuidar dos feridos e apelou aos haitianos por unidade. “As necessidades são enormes. Devemos cuidar dos feridos, mas também dar comida, socorro, abrigo temporário e apoio psicológico”.

Henry, que assumiu o cargo há menos de um mês, declarou estado de emergência por 30 dias, e disse ter “mobilizado todos os recursos do governo para ajudar as vítimas”. Após o tremor, um alerta de tsunami chegou a ser emitido, mas pouco depois foi suspenso. A magnitude de 7,2 torna este terremoto potencialmente mais forte, além de ter ocorrido mais próximo à superfície, do que o de magnitude 7 que atingiu o Haiti há 11 anos, matando centenas de milhares de pessoas. Calcula-se que, no tremor de 2010, o número de vítimas tenha sido de 100 mil a 316 mil pessoas.

O terremoto aconteceu a 12 km da cidade de Saint-Louis du Sud, a mais de 125 km a sudoeste da capital haitiana, Porto Príncipe, a uma profundidade de 10 km, segundo o Instituto Geológico dos Estados Unidos (USGS).  Em nota, o Itamaraty informou que, até o momento, não há registro de brasileiros vitimados pelo abalo sísmico. Segundo o ministério, a comunidade brasileira no Haiti é estimada em 50 pessoas, a maioria de religiosos.

Crise profunda

O terremoto ocorre em um momento em que o Haiti — que foi o primeiro país a abolir a escravidão, mas, até hoje, lida com um pesado fardo da colonização —já enfrenta crises concomitantes em âmbitos político, sanitário, humanitário, econômico e de segurança. O governo do país está enfraquecido, um mês após assassinato do presidente Jovenel Moïse. Há poucos dias, o conselho eleitoral provisório do Haiti adiou o primeiro turno das eleições presidenciais, antes previsto para setembro, para 7 de novembro.

O país ainda enfrenta uma fome crescente e os serviços de saúde estão sobrecarregados por vítimas da Covid-19. O acesso por terra à região onde ocorreu o terremoto está restrito em função do controle exercido por gangues em áreas-chave.

Há registro de danos materiais em várias cidades, segundo imagens de testemunhas publicadas em redes sociais. Prédios religiosos, escolas e residências foram danificados no terremoto, de acordo com moradores.

— No meu bairro, ouvi pessoas gritando. Todas fugiam para fora de suas casas— disse Sephora Pierre Louis, moradora de Porto Príncipe, acrescentando que ela ainda estava em estado de choque. — Pelo menos as pessoas sabiam como sair. Em 2010, ninguém sabia o que fazer. As pessoas ainda estão na rua.

Em vídeos compartilhados na internet, moradores filmaram os escombros de vários edifícios, incluindo uma igreja onde uma cerimônia ocorria na manhã de ontem na comuna de Les Anglais, a 200 km a sudoeste de Porto Príncipe.

O tremor também foi sentido em outros países do Caribe, como Cuba e Jamaica, onde as pessoas deixaram suas casas com medo de desabamentos.

— Todos têm muito medo. Há anos que não havia um terremoto tão grande. — disse Daniel Ross, morador na cidade de Guantánamo, no Leste de Cuba.

Professor haitiano‘Se a história se repetir, vamos para outra missão da ONU e seria lamentável’

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse-se “muito entristecido” pelo episódio e aprovou o envido de “ajuda imediata” ao Haiti, disse a Casa Branca. O montante não foi divulgado. A diretora da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power, coordenará a iniciativa.

A região afetada havia se recuperado recentemente do furacão Matthew, que atingiu o Haiti em 2016, matando centenas de pessoas e causando devastação generalizada. O Haiti, que se encontra na rota de vários fenômenos climáticos extremos intensificados pela mudança climática, está agora no provável caminho da tempestade tropical Grace, que pode trazer fortes chuvas no início da próxima semana.

“Este país nunca encontra uma pausa!”, disse o empresário haitiano Marc Alain Boucicault no Twitter. “Vai levar anos para consertar as coisas e ainda nem começamos!”

Fonte: Jornal O Globo e agências internacionais