VOTO IMPRESSO: Bolsonaro após derrota do voto impresso: “Metade não acredita 100% na lisura do TSE”
Mandatário agradeceu votos favoráveis, mas alegou que alguns deputados sofreram “retaliação” ou foram “chantageados” para votar pela derrubada da PEC. Ele reforçou ainda que as eleições de 2022 deverão enfrentar o que chamou de “mácula da desconfiança”.
Mesmo após ter sofrido derrota na noite de terça-feira (10/8) com a derrubada do voto impresso, que precisava de 308 votos mas obteve 229 votos favoráveis, o presidente Jair Bolsonaro voltou a questionar, nesta quarta-feira (11), a lisura das eleições. Em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, o mandatário afirmou que o resultado do parlamento mostra que metade dos parlamentares não acredita no atual sistema eleitoral e que outros sofreram retaliação para votar pela derrubada da PEC. “Enquanto vivo for, essa é nossa bandeira”, destacou.
“Prestem bem atenção: 450 deputados votaram ontem. Foi dividido em 229, 228, dividido. É sinal de que metade não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE. Não acreditam que o resultado ali no final seja confiável, ok? Dessa outra metade que votou contra, a gente tira PT, PCdo B, PSol, e para eles é melhor o voto eletrônico. Para eles é melhor o voto eletrônico como está aí. Desses outros, tirando os partidos de esquerda que votaram contra, muita gente votou preocupado. Agora, realmente, né, tão com problemas essas pessoas que resolveram votar com o presidente do TSE. Os que se abstiveram, numa votação on-line, abstenção é muito difícil acontecer, é sinal que também ficaram preocupados com retaliações”, apontou.
Bolsonaro disse ainda que a tendência é de que o resultado das próximas eleições seja posto em dúvida na falta do voto impresso. “Partindo desse princípio, hoje em dia sinalizamos para uma eleição, não é que está dividido, uma eleição onde não vai se confiar no resultado das apurações. O que eu quero é que cada um de vocês aqui vote e o voto seja contado. Se a gente perder, o prefeito pode perder a reeleição um dia, o vice também, mas tem que ter certeza na ponta da linha realmente foi a manifestação da maioria do seu município”, acrescentou.
O chefe do Executivo ainda teceu indiretas ao ex-presidente Lula. “Você vê alguns aí perfeitamente alinhados com países onde democracia e liberdade passaram ao largo e se nós não lutarmos por eleições… Olha, quem diria, né, lutar por democracia, por um voto que é alma da democracia, fica complicado”.
Ele disse contar com o apoio da maioria da população e que querem eleger o petista na fraude. “Um recado para todo mundo: a maioria da população está conosco. Está com a verdade. Então pessoal, nós vivemos numa democracia, se está difícil de lutar enquanto tem liberdade depois que vocês perderem a liberdade vai ser impossível lutar. O que a gente quer é uma maneira de a gente comprovar em quem a Maria, o João votou, o voto foi para aquela pessoa. Não tem explicação o que estão fazendo. Querem eleger uma pessoa na fraude. Uma pessoa que há pouco tempo esteve aqui à frente do Executivo e foi uma desgraça o que aconteceu. Ele, agora há pouco, elogiou El Salvador, o presidente que está há mais de 10 anos lá. Ele colaborou nas eleições do (Hugo) Chávez, do (Nicolás) Maduro, colaborou nas eleições da Bolívia, da Argentina”, continuou.
“Feliz com o parlamento”
Bolsonaro também agradeceu os votos favoráveis do Congresso, disse estar “feliz com o parlamento” e repetiu que alguns se abstiveram com medo de “retaliação” ou por “chantagem”.
“Quero agradecer metade do parlamento que votou favorável ao voto impresso. Parte da outra metade que votou contra, que entendo que votou chantageada, uma outra parte que se absteve, não são todos, mas alguns também não votaram com medo de retaliação. A gente vê um cidadão andando pelos corredores da Câmara repetindo exatamente o que falou Zé Dirceu, ganhar eleição é uma coisa, tomar o poder é outra. Acho que não precisa falar mais nada. Eu tô feliz que no parlamento brasileiro, não tivemos 308 votos, mas foram 228. Mas a demonstração é que esse pessoal votou de forma consciente e deu um grande recado ao Brasil: eles não acreditam na lisura das eleições”, disparou.
Pom fim, ele reforçou que as eleições de 2022 deverão enfrentar o que chamou de “mácula da desconfiança”. “Eu perguntaria aqueles que estão trabalhando por interesses pessoais, que não são interesse do Brasil, se eles querem enfrentar eleições no ano que vem com a mácula da desconfiança que não é de agora. E eu tenho a certeza de que esse pessoal que votou ontem, cada vez mais teremos mais gente ao nosso favor. Agora, a gente não pode deixar que meia dúzia de funcionários numa sala escura conte os votos e decida as eleições”, concluiu.
Ainda na terça-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou que o voto impresso é “assunto encerrado” na Câmara este ano. “Ela [PEC] vai ao arquivo e, com respeito à Câmara, esse assunto está, neste ano e com esse viés de constitucionalidade, encerrado. Nós não teríamos tempo nem espaço para iniciarmos nova discussão”, acrescentou, destacando que é preciso bom senso por parte dos Poderes Executivo e Judiciário.
Desfile
A votação ocorreu no mesmo dia em que o presidente recebeu um desfile de blindados e tanques de guerra na Esplanada dos Ministérios. O ato foi visto como tentativa de intimidação aos Poderes. Na ocasião, os veículos estacionaram em frente ao Palácio do Planalto, onde o mandatário e o Ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, receberam convites para comparecer à Demonstração Operativa, que ocorrerá na próxima segunda-feira (16), no Campo de Instrução de Formosa (CIF). Apesar de ocorrer todo ano, foi a primeira vez em que os tanques passaram pelo centro de Brasília.
Em live no último dia 29, o presidente prometeu apresentar provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas. Contudo, durante o evento, ele comentou que “não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”. Exibiu o que chamou de indícios que já foram rebatidos pelo TSE, e usou o espaço para levantar dúvidas sobre o atual sistema de votação brasileiro.
No último dia 2, o ministro Luís Roberto Barroso, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se juntou a 15 ex-presidentes da Corte na assinatura de nota em defesa do sistema eletrônico de votação utilizado no Brasil.
Fonte: Ingrid Soares/Correio Brasiliense