BEM-ESTAR Menopausa na pele: como a perda de colágeno pode afetar a saúde

Entre as inúmeras alterações físicas impostas pela menopausa (e perimenopausa), a perda de colágeno é a que mais reflete na pele. Para além das questões estéticas, o adeus a essa substância mexe com a autoestima e, principalmente, com a saúde. Marie Claire traz um dossiê completo da pele nessa fase da vida.

  • ALLINE DAUROIZ – ESPECIAL PARA MARIE CLAIRE

Ela é sorrateira, traiçoeira e adora uma surpresinha. A perimenopausa (fase que antecede a última menstruação da vida) costuma chegar de repente, instalar sintomas desconfortáveis, provocar mudanças musculoesqueléticas, além de castigar a pele do rosto, do corpo, das mucosas, urogenitais… E, apesar de a maioria relatar sintomas por volta dos 45 anos, pode começar bem antes, aos 35, e durar outros 15 até chegar a menopausa em si (decretada oficialmente após 365 dias sem ocorrência de menstruação).
Foi assim com a empresária e comunicadora digital gaúcha Patricia Parenza, de 50 anos. Em uma manhã de outubro de 2016, ela acordou estranha. “Passei o dia na cama, chorando sem motivo. Depois, menstruei e pensei: ‘Bah! Era TPM, então’. Mas estranhei, nunca tinha sentido nada parecido”, lembra. A data ficou marcada porque cravou sua última menstruação regular. Depois disso, ela não se reconhecia mais. “Os quadros de melancolia aumentaram e passei a ter explosões de raiva, falta de energia, despertares noturnos com taquicardia e suador. A pele do corpo secou e veio a incontinência urinária”, conta.
Patricia procurou a medicina integrada, que detectou redução de progesterona e estrogênio. E é exatamente a queda dos hormônios sexuais que provoca essas alterações no período pré e pós-menopausa. Como o estrogênio tem relação íntima com a síntese de colágeno, a pele também sofre.

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Parenza procurou a medicina integrada (Foto: Eduardo Carneiro / Beleza: Thiago Costa da Silva)

Ah, esse tal colágeno…
Proteína responsável por unir as células, o colágeno sustenta as fibras e dá força aos músculos. E é lá pelos 25, 30 anos que a gente começa a perdê-lo – mais precisamente 1% ao ano, o que leva ao afinamento da pele e ao surgimento de rugas finas. Durante a perimenopausa, essa degradação anual se intensifica, causando sinais mais visíveis de envelhecimento. Na menopausa ainda mais, com a drástica diminuição do colágeno e dos glicosaminoglicanos (GAGs), que são os polissacarídeos da pele – um deles é o festejado ácido hialurônico, responsável pela hidratação da pele em sua camada mais profunda. Nos primeiros cinco anos após a menopausa, o colágeno dos tipos 1 e 3 reduz em até 30%. E, a cada ano na pós-menopausa, a espessura da pele diminui 1,13%, enquanto o conteúdo de colágeno diminui 2,1%. O resultado é uma pele seca e áspera, com perda de firmeza e elasticidade.
A falta de colágeno também provoca alto grau de desidratação na pele, falta de lubrificação vaginal, diminuição da capacidade antioxidante, enfraquecimento das unhas e afinamento dos cabelos. Outro fator que contribui para deixar a pele áspera e opaca é a diminuição do turn over (ciclo de renovação em português) celular, criando acúmulo de queratina. Até os 30 anos, ele dura cerca de 28 dias. Já com 50 anos ou mais, pode levar até quase 90.
Para além da função estética, a perda de colágeno influencia na saúde, já que se perde também boa parte da função como barreira protetora. “A epiderme, camada mais superficial da pele, funciona como uma parede. O queratinócito, célula que compõe a epiderme, é o ‘tijolo’, e os lipídios, o ‘cimento’. Quando o corpo reduz a produção do ‘cimento’ que veda a parede, ele perde água e a pele fica mais exposta à entrada de toxinas”, explica a farmacêutica bioquímica Fernanda Chauvin, pós-graduada em Cosmetologia e Homeopatia pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Dermatocosmética pela Universiteit Brussel, na Bélgica, e diretora da Ellementti Dermocosméticos. Todo esse processo de desidratação também altera a microbiota da pele. “Quando há alteração nesse ecossistema, aumentam as chances de microrganismos oportunistas se instalarem, causando infecções, alergias, acne, feridas, rosácea etc.”, explica Fernanda.

Já na região vaginal, a chegada da menopausa pode acarretar uma atrofia da mucosa, que pode levar a quadros de infecções recorrentes, diminuição da lubrificação e incontinência urinária. Para Patricia, que hoje fala sobre maturidade em suas redes sociais, a menopausa é muito cruel. “Ninguém prepara a gente para esse momento. Mas, olhando pelo lado bom, essa fase nos obriga a olhar para a saúde como nunca”, diz. “Hoje, faço reposição hormonal, bioestimulação de colágeno (Sculptra) uma vez por ano, exercícios físicos cinco vezes por semana, cuido da pele e a protejo diariamente. Depois de pegar covid-19 duas vezes, resolvi também desinflamar o corpo com alimentação ayurvédica. Não tem jeito: é a vida nos chamando a mudar e nos cuidarmos.”

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Alimentação ayurvédica ajuda a equilibrar sintomas (Foto: Eduardo Carneiro / Beleza: Thiago Costa da Silva)

Prevenir para atenuar sintomas
Pensar em prevenção antes da perimenopausa garante vantagens na chegada dos sintomas. “Estudos mostram que 80% do envelhecimento da pele é atribuído ao exposoma: uma combinação de estilo de vida (nutrição, atividade física, consumo de álcool e tabaco, estresse…), ambiente (exposição aos raios UV, poluição) e alterações hormonais (incluindo a menopausa). Apenas 20% desse envelhecimento é culpa do tempo cronológico e da genética”, explica Fernanda.
As especialistas consultadas para esta reportagem indicam focar em cinco pilares para evitar os microdanos:

1) Fotoproteger a pele: filtro solar todo dia, evitar o sol entre 10h e 15h, usar chapéus, óculos e roupas com filtro UV. “Desde os 48 anos, uso luvas com proteção UV para dirigir. Se soubesse, teria começado a usar antes”, revela Patricia.
2) Hidratar: beber ao menos 2 litros de água e usar cremes adequados ao seu tipo de pele todo santo dia.
3) Evitar o acúmulo de cortisol: basicamente, tudo o que agride o corpo aumenta o cortisol, substância que degrada o colágeno e faz aumentar a produção de radicais livres (oxidantes). O resultado é o envelhecimento precoce da pele. Por isso, o negócio é apostar nos hábitos saudáveis: dieta equilibrada, sono reparador, atividades físicas, diminuição do estresse (alô, meditação!), além de evitar álcool e tabaco.
4)  Manter uma mínima rotina diária de skincare: pela manhã, limpar, hidratar e aplicar filtro solar. À noite: limpar e passar um creme de tratamento, com ativo antioxidante. “Prefira sabonetes líquidos para o corpo. Os de barra têm pH mais alcalino. Para o rosto, use apenas produtos específicos para seu tipo de pele”, ressalta Fernanda.
5) Consultar especialistas: segundo Letícia, é possível intensificar os tratamentos no consultório. “Os lasers promovem regeneração, com melhora do afinamento e da qualidade da derme”, explica a expert.

De dentro para fora
Não adianta gastar fortunas com procedimentos estéticos e cremes se não cuidar da alimentação, viu? Quem avisa é a nutricionista funcional e integrativa Dani Cyrulin, especialista em perimenopausa e menopausa. Para ela, o primeiro passo é cuidar do microbioma intestinal. “Para manter o equilíbrio intestinal, é preciso consumir probióticos (bactérias do bem) e prebióticos (fibras que servem de alimento para os probióticos). Os probióticos são encontrados em iogurtes e fermentados, como kefir, kimchi e kombucha. Já os prebióticos estão na cebola, no alho-poró e na banana.”
Para as mulheres nessa fase da vida, Dani também sugere a suplementação. Tanto Dani quanto Letícia indicam o colágeno hidrolisado verisol, molécula que é mais bem absorvida e, segundo pesquisas, tem se mostrado eficaz na prevenção do envelhecimento. “Prefiro o colágeno em pó e combino a formulação com vitamina C, para melhor absorção. E a dica é sempre consumi-lo à noite, duas horas após a refeição”, explica Dani. “Também gosto de indicar cápsulas de silício, substância que dá estrutura à pele.”
“Para evitar os picos de estrogênio na perimenopausa, o ideal é consumir indol-3-carbinol, um potente antiestrogênico presente nas crucíferas (brócolis, couve-flor, couve, acelga, agrião, repolho e couve-de-bruxelas). Também não é muito indicado consumir linhaça e vinho, que incham o corpo nessa fase”, explica Dani. “Agora, se você já estiver na menopausa, quando o nível de todos os hormônios despenca, aí sim é hora de investir na linhaça (que aumenta o nível de estrogênio) e na aveia (que protege o coração).”
Os nutricosméticos também são bastante indicados nos consultórios dermatológicos para suplementar a alimentação nesse período. Farmacêutica especialista em ativos para beleza e saúde e vice-presidente da Galena (empresa de distribuição de insumos para manipulação de dermocosméticos, nutricosméticos e nutracêuticos), Claudia Coral indica o uso do Lipowheat e do Cartidyss. “Costumo dizer que o Lipowheat são as gotinhas que desaceleram o tempo. Esse nutricosmético é fonte de ceramidas compatíveis com nossa pele, que hidratam de dentro para fora e contribuem para diminuir as rugas e marcas de expressão”, explica. “Já o Cartidyss é uma cápsula que melhora a firmeza, diminui rugas, aumenta o tônus e a hidratação da pele. Ele contém 60% de colágeno e 40% de glicosaminoglicanos (GAGs), como o ácido hialurônico.”

Tratamentos
Para quem está começando a ter saudade do colágeno, alguns ativos antioxidantes podem ser adicionados aos creminhos da rotina de skincare. “Resveratrol e retinoides atenuam as rugas finas e melhoram a hidratação”, explica a dermatologista Letícia Nanci.
E para quem já “menopausou”, o ideal é usar ativos antioxidantes, tanto orais como tópicos, que diminuem a degradação do colágeno e os radicais livres, mantendo a pele mais hidratada e saudável. De forma individualizada, podem ser associados alguns ativos tópicos, como o ácido hialurônico (que aumenta a hidratação da pele) e o retinol (para melhora de rugas finas). “Costumo indicar também o uso de gluconolactona em sérum”, revela a dermatologista.
Em consultório, levando em conta todos os procedimentos de segurança para a proteção contra a covid-19, alguns procedimentos podem ser realizados para melhorar a qualidade da pele, como o laser fracionado associado a drug delivery (medicações específicas colocadas na pele para uma maior absorção pós-procedimento). E, para diminuir a flacidez e estimular a produção de colágeno, há os bioestimuladores de colágeno, o ultrassom macro e microfocado e a radiofrequência.
“Nas regiões de colo, pescoço e mãos, gosto de usar o bioestimulador de ácido polilático injetável, para tratar flacidez e afinamento da pele. Geralmente, indico duas a três sessões anuais. Nessas áreas, também uso os lasers fracionados com o intuito de melhorar textura, manchas e trazer rejuvenescimento”, explica Letícia. Para as mulheres na pós-menopausa, é possível ainda complementar o tratamento com ácido hialurônico e/ou bioestimuladores injetáveis para reposicionamento das estruturas de sustentação da pele. “A ideia é dar um efeito lifting natural e corrigir pequenas assimetrias, sempre buscando rejuvenescimento saudável e sem excessos”, garante a especialista.

E a incontinência?
No caso de Patricia, o problema foi tratado com seis meses de fisioterapia pélvica. “Faço os exercícios de contração e relaxamento da vagina até hoje, todo dia. Inclusive coloquei um adesivo na parte interna do meu carro escrito ‘contração’, pra lembrar de fazer”, diverte-se a empresária. O problema também pode ser tratado em consultório. “O laser fracionado de CO2 intravaginal é um dos mais utilizados e comprovados. O protocolo exige três sessões anuais. Existe também uma cadeira de estímulo de fibras musculares específica para tratar a incontinência urinária, com resultados promissores.

ABRE_BELEZA_TEMPERATURA_MÁXIMA_MENOPAUSA3 (Foto: Fotos: Eduardo Carneiro / Beleza: Thiago Costa da Silva)
 

Para garantir mais firmeza e elasticidade à pele apenas com alimentação, aposte em:

Vitamina E
Gérmen de trigo, carnes, ovos, algodão, óleo de milho, óleo de soja, azeite de dendê, amêndoas, nozes, manteiga, gergelim, linhaça, soja, banana, legumes

Vitamina c
Brócolis, couve crua, pimentão amarelo, caju, goiaba, mamão, manga, acerola

Zinco
Ostras cozidas e sementes de abóbora

Selênio
Castanha-do-pará

Cobre
Nozes, amendoim, feijão, ervilha, farelo e gérmen de trigo, fígado e frutos do mar

Silício
Maçã, laranja, manga, banana, repolho cru, cenoura, cebola, pepino, abóbora, amendoim, amêndoas, arroz, milho, aveia, cevada, soja, peixe, farelo de trigo, água com gás.

Fonte: Aline Douroiz/Jornal Globo/WEB TV Cidade MT

 

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