Pandemia, tecnologia e inovação
O coronavírus não é só uma desgraça que se abate sobre o mundo. Serve, também, para apressar a evolução de empresas, executivos, mercado e até de indivíduos. As quarentenas, lockdowns e outras restrições operacionais impostas pela crise sanitária levaram à falência de esquemas tradicionais de produção e distribuição de mercadorias, transações comerciais e prestação e serviços. Consolidadas organizações, diante de seus negócios paralisados e sob risco de inviabilidade, partiram para a montagem de lojas virtuais, deliveries e outros esquemas alternativos para salvar seu empreendimento. Mas não foi o suficiente para enfrentar a crise de tamanha magnitude. Por isso, hoje compram startups, que são empresas inovadoras criadas por jovens estudantes e executivos em fim de graduação que prospectam e apresentam soluções ao mercado.
As estatísticas revelam que no primeiro quadrimestre de 2021, o número de incorporações de startups por empresas tradicionais e já atuantes cresceu 120% no Brasil, um verdadeiro recorde. Foram 77 negócios ante 35 em igual período do ano passado. O número de aquisições entre janeiro e abril deste ano foi maior que em todo o exercício de 2019. As empresas estabelecidas, em vez de buscar novas estratégias através de pesquisa e desenvolvimento próprio, preferem acatar as ofertas dos jovens inovadores que se lançaram ao mercado com propostas modernizantes para os negócios já estabelecidos. Tiveram, assim, acesso a esquemas de trabalho inimagináveis às equipes tradicionais, cuja produção poderia estar superada e obsoleta se partissem do zero rumo à descoberta de novas propostas de ação compatíveis com os tempos atribulados pela pandemia que chegou a matar mais de 4 mil brasileiros por dia, e suas conseqüências, especialmente as restrições de movimentação e interação entre os indivíduos.
Startup é um modelo de negócio onde estudantes ou recém-formados apresentam ao mercado suas propostas inovadoras, que acabam absorvidas pelas empresas e solucionam os problemas corporativos. É por isso que grandes conglomerados empresariais a adquirem e agregam à sua estrutura para operar o setor onde trazem novidades. Em vez da tradicional forma de entrar no mercado por contratação, os idealizadores do projeto são absorvidos como sócios, via incorporação do negócio inovador que desenvolveram mercê da competência desenvolvida nos estudos e em suas pesquisas.
Não fosse o coronavírus, o mercado de startups seria menor, pois os empreendedores estavam confortáveis com seus formatos e esquemas. Mas agora, quando a estrutura se deteriorou pela inatividade e restrição de funcionamento, toda inovação é bem-vinda e pode valer muito dinheiro. Vivemos um momento impar onde procedimentos que eram apenas experimentais passaram a constituir alternativas. A principal delas é o trabalho em home-office. Muito se falou dessa possibilidade durante décadas, mas pouco se avançou, mesmo depois dos anos 90, quando a internet se tornou mais efetiva e disponível aos diferentes segmentos sociais. Hoje, em função da crise sanitária, muitas empresas acordaram para a conveniência de manter o empregado trabalhando remotamente em sua própria casa. Isso evita a possibilidade de contaminação (hoje crucial) mas também reduz custos, o que acaba beneficiando tanto o empregador quanto seu colaborador.
Dentro de mais alguns meses – talvez até um ano – quando a pandemia tiver se extinguido, teremos uma nova matriz de trabalho neste país (e possivelmente em outros também). Não voltaremos ao quadro anterior porque, na adversidade, descobrimos que as inovações tecnológicas dos últimos anos são úteis e nos conduzem a um mundo novo, que dificilmente seria viabilizado se o coronavírus não tivesse vindo para destruir a ordem social, econômica e até pessoal então existente. Somos todos resistentes às mudanças, mas quando elas se impõem, não há como resistir. É importante ficarmos atentos para a chegada da internet 5G. Ela também deverá trazer muitas inovações…
Fonte: Dirceu Cardoso/Gazeta Digital/ WEB TV Cidade MT